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16 outubro 2009

ENTREVISTA COM ANDRADE - TÉCNICO DO FLA

Reprodução da entrvista do técnico Andrade do Flamengo ao Globo Esporte:

GLOBOESPORTE.COM: Dá para fazer um minibalanço de julho para cá?
Andrade: São dois meses e meio, mas parece que tem um ano. Muita coisa aconteceu neste curto espaço de tempo (risos). Tivemos um início muito bom, depois surgiram problemas de contusões e cartões, e veio a turbulência. Tivemos três derrotas seguidas, passei a ser questionado e contestado. Uns começaram a dizer que eu não estava pronto, que foi precipitado me efetivar. Foi difícil, mas consegui passar por isso.

Quais fatores contribuíram para aguentar o período das derrotas?

Carlinhos ao fundo e Andrade em restaurante da Zona Sul do Rio

Desde o momento em que chegaram o Álvaro e o Maldonado, e o Léo Moura voltou, conseguimos dar a volta por cima. Talvez se não fosse o Marcos Braz (vice de futebol) eu não estaria aqui. Ele teve paciência e acreditou no meu trabalho. De repente, se fosse outra pessoa teria contratado um treinador, e eu estaria novamente como assistente técnico.

Você aceita voltar a ser auxiliar técnico do Flamengo?

Acho que agora tenho que seguir minha carreira solo. Voltar a ser auxiliar seria dar um passo atrás e preciso olhar para frente. Provei o que tinha que provar, então, acho que seria muito difícil retornar.

Mas em 2004, depois de ser efetivado, você acabou substituído pelo Júlio César Leal e retornou à função de auxiliar. Por quê?
Eu tinha um grupo que não estava fechado comigo. Isso é o primordial. Os jogadores têm que acreditar naquilo que você fala e tem que haver uma troca de confiança. E aquele grupo eu sentia que não estava fechado e dificilmente daria certo. Era a hora de dar um passo atrás para hoje chegar onde estou.

E o elenco agora é diferente?
Totalmente diferente. O grupo me aceitou, aos pouquinhos fui transmitindo confiança para eles. Houve uma reciprocidade. Eu confio neles, e eles confiam em mim. Ficou mais fácil trabalhar. Eles me deram o tempo que eu precisava e isso foi fundamental para dar certo.

Para ser técnico é necessário ter a simpatia das lideranças?

Se você tiver apoio dos líderes a coisa vai fluir naturalmente. Mesmo no momento delicado não fui questionado pela diretoria e pelos jogadores, e os resultados apareceram. Pegamos o time em 11º e estamos em sexto, a um passo do G-4. Claro que falta muito.

Como foi receber a notícia de que novamente seria interino no Flamengo?
Primeiro que eu não esperava assumir. O treinador era o Cuca, e ele estava fortalecido pelo Kleber Leite (ex vice de futebol). Mas houve a mudança e falaram que eu dirigiria contra o time contra o Santos. Mas sabia que procuravam outra pessoa. Só que teve a saída do Kleber. Vencemos na Vila, quebramos o tabu e chegou o Marcos Braz.


  • Desde que assumi percebi que o grupo estava fechado e queria que eu fosse efetivado. Eles correram por mim e correm até hoje"


E o novo vice acreditou em você?
Ele falou que eu ficaria contra o Atlético-MG e completou: “Você não vai fazer só osso, vou te dar um filé também”. Ele se referia ao jogo contra o Náutico. Aí você vê como a vida é engraçada. Justamente no filé demos a engasgada (empate por 1 a 1) e contra o Atlético, que era líder, vencemos.

Recentemente, o vice-presidente Delair Dumbrock exaltou a comissão técnica prata da casa. Até que ponto essa característica é importante?
Levamos a vantagem por conhecer todo o clube. Conhecemos o pessoal da marcenaria, da piscina, do bar... E quem vem de fora leva um tempo para se habituar. Sabíamos a personalidade de cada jogador e corria-se esse risco de um treinador de fora demorar para se adaptar. Sabíamos o que o grupo precisava. E a coisa deu certo. Formou-se um casamento entre a comissão técnica e os jogadores.

Mas desde 2004 ocorreram alguns momentos em que você não esteve feliz na Gávea...
Isso faz parte do dia a dia. Tive alguns episódios constrangedores, mas na vida é necessário enfrentar isso. Os obstáculos por que passei todo mundo enfrenta. Às vezes eu pensava: não precisava passar por isso. Ouvi algumas coisas que, pela história no Flamengo, me fizeram sentir desrespeitado. Mas aguentei, aturei para poder chegar aqui.

Faz parte engolir sapo?
Faz, e como faz parte... Chega um momento que perguntei: o que estou fazendo aqui? Mas fiquei. Acreditei, persisti e pela perseverança pude demonstrar meu valor.

Um destes episódios em que sentiu desrespeitado foi durante o clássico contra o Fluminense Taça Guanabara de 2005. O que aconteceu?

Andrade e o auxiliar técnico Marcelo Salles

Foi uma situação chata. O Cuca chegou como treinador, poderia ter assumido e disse que não queria. Ele não foi nem na preleção, embora eu o tenha deixado à vontade. Mas fomos para o jogo, que não valia muita coisa, só a parte moral. No intervalo, o Anderson Barros desceu junto com o Cuca e falou: “Ele vai assumir”. Só que àquela altura eu já havia realizado as substituições. Imagina a situação que fiquei? Tive que voltar atrás. Foi constrangedor para mim. De repente ele não percebeu.

Você ainda teve cabeça para retornar para o segundo tempo?
Fiquei muito chateado e por pouco não saí e fui embora. Só não fiz isso porque ficaria sem treinador à beira do campo. Eu tinha assinado a súmula. Quando o jogo acabou, o Cuca foi para a sala de coletiva e fui embora. Não tinha mais nada para fazer ali.

E aí?
Encontrei o Anderson Barros fora do Maracanã e ele me questionou: “Estava todo mundo te procurando para dar entrevista” . Respondi: “Não tenho nada para fazer na sala de imprensa”. Mas superei essas situações porque não sou uma pessoa rancorosa. Não guardo mágoa de ninguém. Estou contando porque me chateou e chatearia qualquer profissional. Foi algo desnecessário.

No período em que foi auxiliar, você conviveu com vários treinadores. O que soube filtrar de cada um deles?
Tive aprendizado com vários treinadores. Abel, Celso Roth, Ney Franco, PC Gusmão, Ricardo Gomes, Joel Santana... peguei um pouco de cada um. A tranquilidade do Ney Franco, a parte disciplinar o Celso Roth, o jeitão do Abelão e maneira extrovertida do Joel para lidar com o grupo. Cada um ensina uma coisa.

Logo na sua estreia, contra o Santos, sentia-se um espírito pró-Andrade no time. Quando o Adriano empatou o jogo, todos foram correndo abraçar você. Houve algum pacto?
Desde que assumi percebi que o grupo estava fechado e queria que eu fosse efetivado. Eles correram por mim e correm até hoje. Não só por mim, mas pelo Marcelo (Salles, auxiliar) e toda a comissão. Eles sabem que se a gente não der certo pode chegar outro profissional e de repente não haver aquela química.

As lágrimas no fim do jogo também marcaram muito.

E o choro nem foi pelo jogo em si, mas pela morte de um companheiro, o (ex-goleiro) Zé Carlos (vítima de câncer). O jogo era menos importante comparado à morte de um amigo.

Desde 2006, o Flamengo estava acostumado a um esquema tático que privilegiava os alas e recheava o meio campo com volantes. Porém, há algumas rodadas você modificou totalmente o esquema e passou a atuar com dois meias ofensivos e dois atacantes. Por que a mudança radical?
O primeiro jogo em que eu faria isso seria contra o Fluminense, na Copa Sul-Americana. Era um esquema ofensivo, ousado. Cheguei a pensar, mas dei uma segurada. Só que depois do empate por 0 a 0 com o Atlético-PR, em Curitiba, quando não demos nenhum chute, percebi que era hora de mudar. No jogo contra o Santo André deu certo e mantivemos. Contra o Inter, mesmo debaixo de chuva, o time jogou bem e amadureci a ideia: essa é a forma de jogar dentro e fora de casa. Agora não tem como mudar.

Nas últimas partidas a torcida novamente compareceu ao Maracanã e apoiou do início ao fim. É um dos trunfos do Flamengo na reta final?
A química entre torcedores e jogadores foi fundamental. Buscávamos isso há um tempo, mas não conseguíamos. Trabalhamos isso na cabeça do grupo e veio na hora certa. Estamos há oito jogos sem perder e esperamos manter essa regularidade. Sabemos que é o Palmeiras, mas temos tudo para manter essa invencibilidade.

No fim deste ano tem eleição. Qual o futuro do Andrade em 2010?
Queria chegar à Libertadores e disputá-la pelo Flamengo. Iria enriquecer muito meu currículo.

6 comentários:

Denilton "Pé" disse...

Oi Milla,o Andrade jogava muito,e tem tudo para ser um ótimo tecnico.
Boa sorte para vocês no domingo!
Abs!!!

Carlos Henrique Pereira disse...

Andrade está desmonstrando que também é bom à beira do campo. Certamente o que não pode acontecer é disputa e intriga entre técnico e jogadores, como o Cuca gosta. Se grupo está fechado, os resultados saem.

Se ganhar hoje do verdão, estaremos ainda mais perto do G4.

Abraço,

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http://blogcraquesdebola.blogspot.com

Mylla Galvão disse...

Estou temporariamente sem net...

Carlos Henrique Pereira disse...

Por ser do interior da Bahia acabei virando Flamenguista mesmo e não consegui torcer para Bahia ou Vitória nos 12 anos em que morei em Salvador.

Assim, vou torcer para o Vitória contra o Galo pelo Flamengo mesmo!

Abraço e obrigado pelo comentário!

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Jefferson freire disse...

Eu li a entrevista. Sempre muito humilde, pés no chão e coerente. O cara está dando um show. Espero q continue assim.

Bjos

Jefferson freire disse...

Mengão imbatível..


Não perca hoje no MFC, o botafoguense felipe souza cantando o Hino do Mengão, o vídeo já está lá.

Bjos

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